sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Meninos ≠ Meninas

Originalmente publicado em 13 de novembro de 2010.


Ela estava esperando ele desde a hora da entrada. Mas não pode encontrá-lo. Decidiu que teria de ser hoje, sem falta. Iria demonstrar de algum jeito que gostava dele, acontecesse o que acontecesse. Já tinha tentado antes, mas a coragem sempre lhe faltara. Hoje, não. Hoje, seria pra valer.
Sempre conviveram, desde que ela conseguia se lembrar, e às vezes até iam para a escola juntos, pois eram vizinhos. E de amiguinhos de escola, aquilo foi se transformando dentro dela, até que ela percebeu que gostava dele de um jeito diferente. Não eram mais de brincar juntos, e ele até estranhava que ela às vezes o evitava, mas não entendia porque. E nem ela. De repente, quando ficavam muito próximos um do outro, ela se surpreendia acanhada, como se ele soubesse que ela estava começando a gostar dele. Coisa que ele, como menino, e ainda mais naquela idade, nunca suspeitaria – exatamente por ser menino e ainda mais daquela idade, o que é auto-explicativo.
Era hora do intervalo, e ela esperava a oportunidade de conseguir falar o que sentia para ele. Mas ele não dava descanso para a bola, que chutava junto com os seus amiguinhos meninos – e a tal da Jéssica, que também gostava de jogar bola. E, naturalmente, por quem nutria uma pequena antipatia, pois desde que ela começou a se afastar dele, tanto mais ela via Jéssica se aproximar. Aquilo lhe doía no peito. E por ele ser um dos meninos mais bonitos da escola, despertava também os olhares das suas amiguinhas, que diziam que gostavam dele. Para evitar que as atenções caíssem todas nele, ela disfarçava, e dizia que ele era feio; que o Leandrinho era muito mais bonitinho. Era tiro e queda: quando uma menina falava que gostava de algum menino, logo todas do grupinho também gostavam. O que, na sua inocência de criança, nem imaginava por que motivo aquilo funcionava. Mas funcionava.
O intervalo acabou, e ela não conseguiu se aproximar dele. Ela foi para a sala, mas não conseguia prestar atenção em nada. A professora chamou sua atenção por quatro vezes durante a mesma aula, e mesmo assim ela continuava distraída, com seus desenhos de coração feitos na capa do caderno e as iniciais dos dois estampadas dentro dele. Ela olhava para o relógio e acompanhava com o olhar os ponteiros dos segundos dando voltas sem fim até o termino das aulas. Até o sino soar. Então o peito dela bateu forte. Apanhou sua mochila, colocou nas costas e começou a andar pé ante pé até chegar ao portão da escola. E ali esperou, até ele aparecer. Quando o viu, parecia que o coração iria ou saltar ou afundar no estômago. Suas mãozinhas começaram a suar, e começou a tremer. Quando chegou bem perto dela, ele perguntou:
- Vamos?
Ela tomou coragem e deu-lhe um beijo desajeitado, entre as bochechas e o lábio. Ele, atônito, só teve uma reação:
- Eca! – e limpou o rosto onde foi beijado.
Sim, porque ele era dois anos mais novo que ela, e estava na fase em que os meninos brincam de polícia e ladrão, pique-esconde e tem nojo de beijo.
Hoje ela é insegura, tem medo de relacionamentos, faz terapia desde os treze anos e seu total de gastos anuais devido a esse trauma é de em média R$ 45.000,00.

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