Uma frase linda me fez escrever esse post em menos de meia hora - assim como grande parte dos outros, e eu evito de editá-los. Parece trapaça, rsrs.
Originalmente publicado em 16 de novembro de 2010.
Da janela do apartamento consigo ver a cidade. Uma cidade que não liga pra ninguém.
Lá embaixo o que vejo é o vai e vem dos carros e o ritmo das pessoas transitando entre as calçadas. Senhoras, crianças, bêbados: cada um ocupado com os seus afazeres, cada um cuidando da sua vida. Pessoas que nunca chegarei a conhecer, cada minuto aqui observando são histórias perdidas que nunca voltarão a desfilar na minha frente. Será que alguém lá embaixo terá consciência uma das outras enquanto caminham? Elas suspeitam que tem alguém observando de cima? Terão elas algum dia a consciência do que se passa nesses prédios acima de suas cabeças?
Desisto desses pensamentos para acender um cigarro. Cinco minutos sem olhar lá para baixo e pensar em escrever algo que valha a pena. Inútil. Ele só serve para dar mais profundidade ao sentimento de solidão aqui nesta sala vazia. Ninguém para conversar, o telefone sem tocar, apenas alguns jornais velhos e a televisão providencialmente desligada para que eu consiga ter algum foco. Mas o silêncio aqui chega a ser constrangedor: como se alguém soubesse do vazio que está aqui em casa. Talvez os vizinhos saibam. Essa ideia me incomoda, e começo a pisar mais forte no chão para dar algum sinal de vida. Ligo a televisão e decido lavar a louça às duas da manhã.
E de repente a mente voa. Começo a lembrar da infância. De um tempo em que a família se reunia na casa de praia para passar o ano novo juntos. Quando a gente corria solto de um lado pro outro, sem as preocupações de emprego, carreira, que faculdade cursar. A única preocupação era brincar o máximo que pudesse antes de nossos pais nos chamarem para tomar banho – o que acabava com a festa momentaneamente, para ser retomada logo em seguida. Lembro das tardes de domingo em que eu ficava com meu pai na frente da televisão torcendo pro Flamengo, quando passava o jogo. Até estávamos brigados às vezes, mas eram momentos ótimos que não voltam mais. Das festas da adolescência, primeiro porre, primeiro beijo de língua – desajeitado mas bom – , a primeira vez que saí com meu irmão mais velho. E até de coisas que não aconteceram. Lugares que eu deixei de ir, oportunidades que eu deixei de agarrar. Relacionamentos que não levei adiante, e outros que abortei antes mesmo de começar. Como será que estão todas essas pessoas agora? O que se passa na vida delas? Estão bem?
Penso em pegar a agenda e ligar para algumas delas. Mas já sei que isso não vai acontecer: já são quatro da manhã – o tempo passou rápido – , e sei que se deixar para amanhã, vou acabar desistindo de falar com quem quer que seja. O que me faz dar um sorriso sem graça: é só um arroubo de sentimentalismo passageiro, como outros tantos que vieram e virão. Coisa de quem mora sozinho. O que eu queria nesse momento era só um abraço, daqueles apertados, sem prazo de duração. Poderia dormir assim. Poderia escovar os dentes assim, sem largar desse abraço inventado. O que eu queria mesmo era que todas essas pessoas soubessem o quanto quero o bem delas, mesmo as que já se foram e que eu sei que nunca mais verei de novo. E que soubessem que, apesar desse momento solitário e saudoso demais, vou ficar bem, não se preocupem.
Desisto de escrever, hoje sei que não vai sair nada de produtivo. Apago as luzes, agarro o violão e me ponho a tocar algumas notas na janela. O violão é companhia, mas não canta a saudade que eu sinto. E de fundo consigo ouvir a voz de meus queridos amigos cantando: “Está tudo bem – está tudo bem”.
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