quinta-feira, 18 de abril de 2013

Micro Contos

          Às vezes é tão curtinho que não dá pra postar somente um.

          Entrou no bar, punho em riste:


          - O Diabo é que ela não entende! A distância é necessária, pelo menos um tiquim assim. Por que infernos ela não vê que eu estou sempre junto a ela? Nossa alma não separa mais. Se nós tivéssemos 20 anos ainda, vá lá...Que é isso que você está bebendo?

          - Conhaque.
          - Dá-me cá.
          Virou de uma talagada, estalou a língua, limpou a boca com as costas das mãos.
          - Percebeu?
          Sorrindo, o balconista respondeu:
          - Percebi.
          Deixou uma dose de conhaque na pendura e partiu.



*     *     *


          O médico entrou no quarto. Um casal de idosos: ele na cama, ela apertando-lhe a mão.
          Respirando com dificuldade, o senhor pergunta:
          - Cumpri as que lhe havia prometido?
          Ela, rosto cheio de orgulho e sorriso aberto, responde com muita dificuldade (a emoção tomara-lhe conta):
          - Todas.
          Ele sorriu e partiu.
          Ela chorou e ficou.
          O médico não sabia qual promessas eram, talvez todas. Mal conseguia ficar ali de pé. Precisava sair, precisava de uma cadeira, precisava ver a esposa, precisava qualquer coisa. Chorou até não poder mais.
          E quem não?

          Quisera todos pudessem partir assim. Em paz.


*     *     *


          Ele entrou no quarto e viu o filho rabiscando as paredes. Desenhava um sol. Ele sorriu e ficou assistindo.
          - Um sol, filho?
          - É.
          Entra o marido, olha pro filho e faz um olhar de reprovação:
          - Rabiscando o quarto? Não vai dar nem um puxão de orelha, querido?
          - Tá doido?! Deixa ele rabiscar.
          E emenda:
          - Esse vai ser poeta.
          O outro suspira, resignado:
          - Eu queria mesmo é que fosse advogado. Mas vá lá: numa dessa me sai um Camões...
          O esposo olha para o marido, e negativando-o com a cabeça, sorri: dá pra ver que o marido não entende nada de poesia.
          O sol está torto.
          Tá na cara que será um Drummondezinho.


*     *     *


          Entraram de mãos dadas no bar. A banda tocava, e, enquanto todos somente a escutavam, eles dançavam. Logo chamaram a atenção, e o burburinho foi grande:
          "Mas ninguém dança aqui!"
          "Pô, mas música não é pra isso mesmo?"
          "E se a gente também..."
          Logo foi o primeiro casal, alguns solitários e outros em grupos. Afastaram as mesas para os lados, invadiram o salão e dançaram. Dançaram até amanhecer o dia.
          Foram todos para suas respectivas casas, cantarolando. Pés doloridos, mas com um imenso sorriso no rosto.
          Divertiram-se, foi isso.
          E o Sol lá fora, ninando-os em seus sonhos.

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