Como descrever algo que pertence ao visual?
Uma linda manhã de sexta-feira.
Olhei pela manhã de uma sexta a coloração avermelhada das bordas das nuvens que pairavam no céu. Olhava para o oeste: sabia, portanto, que estava amanhecendo. O sabia antes de olhar para as nuvens, claro. Mas o avermelhado do princípio das nuvens me dava a certeza.
Claro que de dentro do carro poderia ter feito aos outros notarem o que eu via. Mas desnecessário fazer isso. Era momento meu, unicamente. E sorria por não compartilhar com ninguém mais. Era meu, bastava.
Não, não quis puxar papo com ninguém. Eu estava respirando o ambiente, com uma brisa gelada fazendo os pelos da barba endurecerem. Não era um incômodo, propriamente. Era a comodidade de me saber livre de preocupações e pleno de segredos. Vivo, compreende? Um novo dia.
Cada um que note o céu como bem entende.
Foi um pássaro negro que me fez notar essa imagem. Mais que imagem, sensação e consciência. Um dia a mais cabendo no esgar de um sorriso que transbordava de meu peito. Conscientemente escondido, inconscientemente demonstrado, abafado por egoísmo, puro egoísmo.
Não sou eu que farei aos outros notarem a beleza de um amanhecer potente e invencível.
E, nesse meio-tempo, as asas negras desapareciam, não sei ao certo se por detrás de um poste, um armazém ou por detrás de minhas retinas. Nunca saberei ao certo. Mas estava lá.
Estávamos todos lá, e ninguém além de mim. Vivos - e, espero, caso você não tenha notado aquela manhã de sexta-feira, que note as que virão.
Estamos recheados de dias da semana.
Um sorriso para todos vocês.
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