Quero mirar por horas a fio a minha não importância de costas para o espelho.
Quero me juntar aos párias, aos ébrios, aos marginais, aos pobres e inválidos e lhes contar histórias de ninar.
Quero comer no chão com os loucos e lunáticos.
Quero destruir a cabana, dormir aos pés das árvores e me alimentar de suas cascas, me transformar na própria pneumonia em dias de frio.
Quero morar sozinho na caverna, deixar o cabelo crescer e mamar nas tetas das lobas.
Quero dançar nu no meio do salão abarrotado de gentis damas com seus vestidos de noite e cavalheiros em casacas impecáveis.
Quero provocar a ira, sorrir com o canto da boca ao ver rasgarem violentamente retratos com a minha pessoa.
Quero beber em taças finas o destilado negro venenoso da malícia alheia e limpar a baba com as costas das mãos.
Quero berrar convulsivamente dentro de templos, esnobar as súplicas do demônio e as ameaças de um deus todo poderoso.
Quero negar a pai e mãe, desconhecer irmão e maldizer o dia de meu nascimento com uma cuspida para o lado.
Quero ofertar uma rosa à desdentada que nunca sentiu o que é ser amada.
Quero mastigar a grama enquanto o rouxinol e o corvo fazem ninhos e cantam canções estranhas por trás dos meus olhos.
Quero falar todas as línguas de Babel apenas para mostrar como foi inútil todo o seu trabalho, travar conversa com o surdo, ouvir as confissões do mudo e deixar o cego em companhia apenas de sua própria cegueira.
E ao cair da noite…aí não quero mais nada. Apenas voltar a sonhar.
Un sueño de un loco.
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