sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Novo Fôlego Para Uma Noite de Inverno

Primeira tentativa de um suspense. Horrível, porém encarável.

Originalmente publicado em 28 de junho de 2012.



- Então diz aí: qual a raiz quadrada de 39? – perguntaram pra ele, com aquela cara de ânimo, com a boca aberta num sorriso, esperando que ele desse a resposta.
“Tremenda merda que fiz quando fui falar que estava cursando Matemática”, pensou. Não podia ir pro bar sem que aparecesse algum amigo / colega chato pra falar coisas do tipo “esse é crânio” ou “caraca, o que você tem na cabeça pra fazer esse curso?” ou ainda “qual a raiz quadrada de 39?”. A princípio nem se incomodou muito, achava até graça. Mas depois de algum tempo a graça foi se acabando. E a graça acabava totalmente depois de começar a ficar bêbado.
Estava esperando o amigo que veio com ele pra fumar um cigarro lá fora, mas ele estava demorando demais. Resolveu dar uma passada no banheiro antes de ir pitar.
- Jorge, á aí?
- Tô.
- Fazendo o quê?
- Um tratado sobre nanotecnologia e seu uso na botânica. Cagando, né, meu?
- Tá, vou lá fora fumar e já volto.
- Peraí, peraí que eu já tô saindo.
- Quê, peraí! Tô indo. E vê se lava essa mão aí, hein?
Ouviu Jorge resmungar mais alguma coisa, mas não chegou a entender. Foi pra fora fumar.
Chegou, acendeu o cigarro e deu umas baforadas. Olhou ao redor: cacete, o centro da cidade tava todo fodido. Lixo, vandalismo, pichações. A coisa mais terna que ele viu numa parede foi “Escrevi, saí correndo…” No inverno era essa a sua vista da cidade. Os bares do centro da cidade iluminados pelas luzes amarelas dos postes, aquelas que doem a vista de ficar olhando diretamente pra elas. Pelo menos a sua doía. E as luzes eram sempre acompanhadas daquele chuvisco, dando a impressão de que o clima está sempre pior do que realmente está. Todo esse ambiente dá uma boa ideia de como estava seu humor. Jorge chegou:
- Ei, já fumou?
- Já.
- Porra, nem pra esperar, né?
- Eu só tinha um. Já vamos ali comprar mais.
 - E então, sonhou com o quê, mesmo?
- Ah, nada demais. Pra mim, é claro. Sonhei que você tinha sido atropelado, rererere.
- Porra, nada demais, né? Eu pelo menos morri no sonho? Teve festerê de despedida?
- HAHAHAHAHA! Não cheguei nessa parte, acordei assustado.
- Hum, que amor! Vem cá me dar um beijo!
- Sai fora, rapá! Vamos lá pegar um cigarro. Tem grana aí?
- Tenho, sim. Mas não tem mais aí no bar, não. Vou ter que ir ali na esquina. Vamos lá?
- O cacete, não vou debaixo desse chuvisco, não. Vá lá trazer que eu ajudo a fumar.
- Beleza, já volto.
E enquanto ele atravessava a rua, ele lembrou-se de falar:
 -Ei! – ele virou-se: – E nada de trazer aquela merda mentol…
Bump! Screeeeeeeeeeeeeeee…
O corpo parou a cerca de dez, doze metros do carro. Do jeito que carro o pegou, ele já sabia que o amigo só poderia estar morto. Teve correria de gente pra fora do bar pra ver o que tinha acontecido, passavam por ele, mas ele só conseguia ficar ali, de pé, olhando a cena. Então deu meia volta, entrou no bar, pegou uma carteira de cigarro que estava abandonada sobre o balcão e o acendeu. Soltou a primeira baforada, a segunda, a terceira…e riu por duas vezes.
A primeira porque teve morte no sonho, sim, mas não teve festerê.
A segunda foi porque, se corresse tudo como no sonho, ele acabaria consolando a noiva de Jorge da melhor maneira possível.
E, enquanto ele escrevia num guardanapo de papel (Raiz 39 = 6,244997998398398), cantarolava:
♫ “Mr.Sandman, give me a dream…” ♫ 

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