sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Barnabé Não Sabe Ser Gentil (É O Que Fala A Vizinhança)

Originalmente publicado em 21 de setembro de 2011.



Era um escudeiro pobre da periferia da Corte Real. Mas tinha um sonho, e ela tinha nome: Giselda, a princesa do reino. Linda como ela só, imaginava-se casado com a bela figura, com ela em seus braços, juras de amor eterno entre ambos.
Mas acontece que um dia o terrível Dragão do Leste raptou a princesa. O reino entrou em polvorosa, e todos se perguntavam o que seria da princesa, coitadinha. Então o Rei mandou avisar a todos os cantos do reino que estava recrutando cavaleiros bravos para salvar a sua filha. Primeiro prometeu ouro: ninguém apareceu. Ofereceu a mão da princesa porque, afinal, se alguém derrotasse o Dragão, seria um cavaleiro valoroso. Necas. Resolveu, então, botar metade do reino na jogada: nada. O pessoal pensava, e não sem razão, que ouro era sempre muito bem-vindo, que a princesa era linda, mas ninguém queria botar o seu na reta do fogo do Dragão. Até que chegou o ferreiro na antessala do rei, onde estava acontecendo a seleção. Deu um tapa na mesa e berrou:
“Bota aí: Barnabé Siqueira”.
Depois de uma seleção rápida – foi o único a se voluntariar a salvar a princesa – lhe deram uma armadura, escudo, espada e cavalo. Tal era a confiança do rei que ele lograsse sucesso que ele deu três tapinhas nas costas daquele mulambento de barriga protuberante, sem nem ao menos desejar boa sorte. “Não tem Tu, vai Tatu”, pensou. E lá se mandou Barnabé, com um sorriso besta na face,  típico dos idiotas.
Chegando à Caverna do Dragão (que nome imaginativo!), tratou de dar uma cuspidela para o lado, que acabou por acertar o próprio pé, e berrou a plenos pulmões: “É aqui que mora a lagartixa?” Dragão que era, não entendeu o que ele havia dito, mas pela cara-de-pau de figura tão medonha como aquela ter a pachorra de ter aparecido na frente da casa dele e o desafiado fez com que ele nem perguntasse quantos anos tinha o ferreiro: foi logo dando uma cusparada de fogo. Nesse ponto, o escudo de Barnabé já havia derretido. E como o Dragão era do lema “assado ou cru, é tudo angu”, partiu com a bocarra aberta para devorar o coitado. Por um golpe de sorte, ele tropeçou, e ficou com o pescoço à mercê de Barnabé. Nesse momento ele pensou: “É agora!”
- Morre, Dragão!
Foi com esse berro que Barnabé Siqueira, 54 anos, acordou sua esposa, Teresa Siqueira, 51, enquanto ela dormia, acompanhado de um severo tapa nas costas da mesma. Ao que ela emendou:
- Dragão, é?
Agora, Barnabé Siqueira dorme no sofá, já há três semanas, enquanto espera a papelada do divórcio sair. Pra aprender o que acontece quando se chama a patroa de Dragão.

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