Ele acordou com o latido do cachorro, às três e meia da manhã. E não conseguia mais dormir. O cachorro não parava. Aquilo o incomodou de um jeito que o fez levantar da cama para espantar o cachorro em frente à sua casa. Quando pôs a cabeça para fora da janela, o cachorro passou a latir mais ainda, e dava a impressão de que, se não fosse a grade do portão, o cachorro teria voado no seu pescoço e não teria a menor cerimônia de dar umas boas mordidas nele. “Cachorro assim não dá pra espantar abanando os braços”, pensou. Voltou pra dentro, encheu um balde d’água e tratou de arremessar na direção dele. Maior parte da água caiu no chão, mas foi o bastante pra espantar o cachorro dali, botando-o com o rabo entre as pernas. Voltou para a cama satisfeito com o resultado, e, num meio-sorriso, voltou a se deitar. Dali a cinco minutos, ouviu latidos de novo. Mas percebera claramente que o cachorro tinha se juntado a mais um amigo pra entoar uma serenata.
Adepto que não era e nem nunca foi de serenatas, olhou pela janela. Pra piorar, o cachorro trouxe um amigo menor, daqueles que latem com a vozinha aguda e que incomodam muito mais. “Um soprano e um barítono”, pensou. Beleza! Mais um balde d’água, e chuá!!!, desta vez a mira funcionou um pouco melhor. Os dois sumiram, e, para garantir, esperou um pouco mais à janela para ver se aquelas criaturas tão queridas voltariam. Não voltaram. Voltou ele para a cama, e tentou deitar-se novamente.
Tentou. Pois foi só deitar a cabeça no travesseiro e recomeçou novo coral de ladros em frente a sua casa. Quando voltou, verificou que a matilha havia crescido. Agora eram três cachorros que latiam furiosamente para ele. “Isso vai mal”, pensou novamente. E enquanto pensava na janela o que fazer para afugentar os cachorros de vez dali, lhe deu uma vontade súbita de lamber o próprio antebraço, e, depois de o fazer, percebeu que seu braço estava mais peludo do que o normal. Achou aquilo estranho, pois braços não ficam tão peludos por causa de uma noite mal dormida, ora essa! Foi ao banheiro e, ao acender a luz, viu três pares de bigodes compridos saindo de debaixo do seu nariz e um par de orelhas pontudas emergindo do topo da sua cabeça. Ele estava com cara de gato. Foi quando percebeu que estava sonhando…
…acordou às três e meia da manhã. Ouvia um latido lá fora. “Quer saber?”, pensou: “que lata, que berre, que toque trombeta, que vá para os quintos dos infernos!!!, que eu vou é fazer o café e esperar dar seis horas para ir ao trabalho!”, disse para si mesmo, já um pouco receoso. E foi pra cozinha passar o seu café, para espantar o sono.
Depois de beber duas xícaras de café, silêncio na rua. O cachorro tinha ido embora.
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