sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Paixão e Algumas Bobagens

Originalmente publicado em 23 de janeiro de 2012.



Tenho propriedade pra falar sobre Paixão. É uma figurinha com quem tenho contato frequente, tornando-a bem conhecida minha, o que me faz saber quais os momentos de sua aproximação.
Vamos aos fatos.
Paixão é uma criança marota. Vive esquiva por detrás de árvores a nos vigiar, com seu riso travesso mal contido, esperando a hora certa para nos abordar. Que pode ser a qualquer momento: entre uma conversa, uma troca de olhares, um toque de mãos ou uma música. Ela não tem padrão algum. Simplesmente aparece.
Para os atentos a sua aproximação ela é facilmente reconhecível. Como uma atriz mirim, ela caminha próximo às suas pretensas vítimas, com seu andar irregular, as mãos enfiadas nos bolsos de seu vestidinho vermelho a assobiar, chutando uma pedrinha aqui, outra ali, a observar uma fila de formigas pelo gramado ou a brincar com uma folha de flamboyant. Mas não se enganem, amigos. Ela está atentíssima a todos os nossos movimentos.
E não se importa nem um pouco em travar contato, estejamos alertas ou não. Claro que algumas pessoas evitam o seu contato, mas não o conseguem por muito tempo. Paixão não descansa: apesar de sua aparência frágil, é avassaladora. Nos toma de assalto, e, derrepentemente, ficamos por aí, vendo passarinhos verdes, com a sensação de borboletas na barriga e todos esses clichês puramente verdadeiros.
Ela vê em algumas pessoas fregueses assíduos. Não chego a me orgulhar nem a me envergonhar por conhecê-la tão de perto. Simplesmente funciona assim comigo. Ao menos, uma vantagem: reconheço a sua aproximação. E tento nesse meio-tempo entender a sua real natureza, numa pretensão quase sobre-humana de analisar os desígnios de um coração propenso a aceitar que ela se aproxime, me arrebente por dentro de uma maneira quase viciante e que me leva à febre, falta de ar e me faz desejar abraçá-la de uma maneira pública e despudorada. Quase chego a entender meu próprio coração, mas aí…aí, meu amigo, já não sou mais o adulto cheio de certezas e dogmas. Sou criança de novo. E tá tudo bem.
Agora, por exemplo: enquanto escrevo,a vejo lá longe, me reconhecendo à distância. Ela me acena e diz:
“Preciso mesmo falar com você”.
Dou um sorriso meio de lado, suspiro e aguardo. Vou por acaso marcar hora com ela? Claro que não! Deixa ela vir! Quem sabe, dessa vez, o que eu acho muito improvável, eu entenda a real natureza de suas ações.
Muito mais complicado seria fazer isso com Amor, seu irmão mais velho, e que ela chama de entediante.
Que seria de irmãos sem uma briguinha entre eles?

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